Gênero, ciclismo e ciclomobilidade
Mais um caso de mulher assediada enquanto pedala. Até aí, nenhuma novidade. A diferença é que, dessa vez, uma câmera de segurança conseguiu captar o crime, e o suspeito foi detido. Mas, e quanto às perturbações e assédios diários que nós, mulheres, passamos e permanecem em silêncio dentro de nós? Só nós sabemos o que sentimos.
Ao passo em que vemos a expansão de políticas públicas para a ciclomobilidade, a educação de parte da sociedade não parece dar conta de acompanhar essa otimização. É urgente refletir a diversidade no ciclismo para além da empatia e solidariedade. São palavras bonitas, mas que não resolvem nossos problemas.
Aliás, longe de culpabilidade, mas em um diálogo franco, me pergunto: quanto os homens são capazes de se solidarizar de forma real conosco? Se para eles não existe a preocupação sobre a roupa que usam, o caminho que escolhem, e se sentem seguros em pedalar sozinhos, me parece que não há o que se falar em empatia. Mais prudente seria dizer que esses que se solidarizam nos respeitam. Alguns deles avançam e tentam mostrar aos outros homens a necessidade de respeitar a mulher que pedala, mas isso é tudo.
No atual contexto, é necessário que a dita empatia e solidariedade caminhem para um diálogo sobre problemas que são cotidianos para as ciclistas: assédio e importunação no trânsito, preocupações com rotas e horários para o retorno do pedal, a insegurança em pedalar desacompanhadas, etc.
Precisamos de espaços para expor nossas dificuldades pessoais, especialmente a partir de experiências reais, para mudanças concretas. Mais do que justiça a partir do crime cometido, queremos educação, respeito e segurança para seguir fazendo o esporte que gostamos e coragem para transformá-lo em mobilidade.
Imagina um mundo onde a mulher pode fazer da bicicleta o seu único meio de transporte, sem preocupações relacionadas ao simples fato de ser mulher? Que lindo será.
Ciclista que ama nadar. Vejo política em absolutamente tudo e me iludo que sei algo sobre o assunto para dar pitaco.