Mulheres que pedalam

Como é ser mulher e ser ciclista

Eu já disse, num post anterior, que não gosto de pedalar sozinha, entre outros motivos, pelo medo de assédio. Neste texto, vou contar para vocês por quê.

Primeiramente, eu gostaria de esclarecer que eu nunca fui uma pessoa medrosa por natureza. Eu faço muita coisa sozinha – praticamente tudo, para dizer a verdade -, sempre achei que eu sabia me cuidar muito bem.

Mas, infelizmente, vivemos ainda numa sociedade machista em que, nós, mulheres sempre estamos mais vulneráveis. E, por isso, nosso autocuidado deve ser redobrado.

Pois bem, vamos aos fatos. Logo que eu resolvi voltar ao mundo do ciclismo, no dia em que comprei minha bike nova (literalmente no primeiro dia), eu passei por uma situação que não desejo a ninguém – e que me “traumatizou”, digamos assim.

Eu peguei minha bike novinha e resolvi ir dar uma volta no bairro para testar. Era ainda dia, pois estávamos no horário de verão e o sol estava a pino. Eu tinha pedalado um pouco mais de 2km, ou seja, mal tinha saído de casa, quando, sem que eu pudesse perceber (ou me defender), veio uma moto por trás de mim, reduziu a velocidade, passou bem pertinho de mim, e o sujeito encheu a mão na minha bunda.

[Disclaimer] Peço perdão pelo linguajar, mas não tinha como usar um eufemismo aqui.

Nem queiram saber todos os palavrões que eu soltei!

Primeiro, eu demorei para me tocar do que tinha acontecido. Nessas situações, como a gente obviamente nunca está esperando que algo assim aconteça, primeiro a gente fica paralisada. E é claro que num primeiro momento eu me desequilibrei e quase caí.

Depois, eu senti muito ódio, muito nojo, senti vontade de chorar, de matar o infeliz, fiquei revoltada de dez formas diferentes e… fiquei brochada. Pois é, quase desisti de vez da bicicleta.

Bom, depois desse dia, eu decidi que não sairia mais sozinha, porque infelizmente nossa sociedade não oferece segurança e tranquilidade o suficiente para que uma mulher realmente possa fazer o que ela quiser.

Mas, de qualquer maneira, felizmente depois que passou a raiva, eu percebi que não deveria desistir, assim, simplesmente. Porque a bicicleta é algo que me traz muitas alegrias, muito bem estar, qualidade de vida, e uma ótima integração com meus amigos (e com outras pessoas que também curtem pedalar).

Ter amigas que pedalam é tudo de bom! #grlpwr

Eu só saio acompanhada, porque me sinto mais segura – e também é mais divertido. Mas eu dou um jeito e vou. Claro que não estou dizendo que vocês não devem, em hipótese alguma, sair sozinhas. E, sim, apenas alertando para uma situação horrível pela qual eu passei, infelizmente.

Friends in bikes.

Mas prometo que nesta editoria “Mulheres que pedalam”, não vou falar só de coisa ruim, não. Aliás, até hoje este foi o único momento ruim para mim, enquanto mulher ciclista. Nos próximos textos, quero compartilhar com vocês só coisas boas, como dicas de roupas e acessórios, informações sobre dúvidas comuns, e tudo o mais que eu puder descobrir e postar aqui pra que o pedal esteja cada dia mais no dia a dia feminino, e que vocês sejam tão felizes quanto eu em cima da magrela.

Mayara Godoy

Minha primeira bicicleta foi uma Caloi Ceci vermelha com cestinha, quando eu tinha 4 anos. A diferença é que sem as rodinhas eu já levei vários tombos - mas também já fui bem mais longe.

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