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Ônibus contra ciclistas, um relato

Era uma bela tarde de domingo, resolvemos sair para pedalar um pouco, avenidas quase vazias, temperatura amena, céu azul, tudo de bom… Até encontrar um ônibus pelo caminho.

Estávamos na JK, pouco antes do CEASA em direção à Itaipu, quando um coletivo do Consórcio Sorriso, além de passar muito perto de nós, fechou minha esposa que ia logo à frente. Ficamos brabos, mas não é como se fosse a primeira vez… vida que segue.

Depois do BIG, o ultrapassamos. O motorista parece não ter gostado muito, pois veio atrás acelerando e buzinando. Não consegui entender a razão, mas desta vez anotei a placa e o número do carro. Seguimos, então, pedalando, um pouco mais calmos pois o ônibus havia tomado outra direção.

Alguns quilômetros depois, já na Tancredo, nos encontramos novamente. Desta vez, consegui parar e tirar uma foto da traseira do carro. Seguimos sem mais problemas.

Bike vs bus – Parte 2

O domingo se foi, e na terça resolvi pedalar novamente, desta vez sozinho e em direção às Cataratas. Logo após a rotatória do aeroporto, naquela descida gostosa, um ônibus passou muito perto de mim, claramente desrespeitando a distância mínima.

Reclamar é viver

Nos dois casos, abri uma reclamação pelo Facebook da empresa e também na Ouvidoria da Prefeitura. Eis a resposta da empresa sobre os casos:

Caso Itaipu – Consórcio Sorriso:

Aplicaremos as medidas internas administrativas a fim de que não ocorram mais situações como esta.

Caso Cataratas – Apesar da identificação da Sorriso, a empresa alegou que o condutor era de outra empresa:

Boa tarde, em resposta a reclamação do Senhor, a empresa operadora conversou com o funcionário e este alegou que próximo ao redondo do Aeroporto na BR 469, avistou um ciclista, porém não desviou por motivos de haver outros veículos na pista contrária a que seguia o ônibus, mesmo havendo terceira pista para os veículos na pista contrária, geralmente quando é carro de pequeno porte ninguém utiliza a terceira faixa segundo ele, e em quase toda sua extensão a BR não possui acostamentos, neste trecho em específico ele é de aproximadamente um metro, o que aproxima muito os pedestres e ciclistas dos veículos que transitam na faixa de rolamento. Segundo a empresa operadora o motorista foi advertido e um instrutor irá acompanhar as viagens específicas deste condutor.

Minha orientação às empresas foi que, ao invés de uma punição aos motoristas, seria mais efetivo um treinamento específico com eles, de forma que episódios como este parem de acontecer.

Mas fiquei pensando: Será que isso é só comigo? Será que sou chato demais? Talvez muita coincidência…

Dramas cotidianos

Resolvi perguntar aos amigos dos grupos de bike da cidade, e descobri que eu não estava sozinho. Veja os depoimentos:

Geralmente, talvez pela pressa dos motorista do transporte para cumprir seus horários, eles acabam fechando os ciclistas que estão à direita da via. Passam em alta velocidade, não respeitam o limite de 1,5 m. E isso é pela cidade toda, infelizmente.

Daiana Ravanhane Grando Castro

Já tive que me jogar em um barranco, pois estava bem atrás de mim. Se eu não me jogasse, creio que passava por cima, porque mesmo eu caído ele não deu uma freadinha sequer.

Luis Eduardo Younis

Várias vezes motorista de ônibus pediu pra sair da frente. Alguns xingando que ciclista não deveria existir. Outro pediu para andar na calçada, e não na pista.

Francisco Amarilla

Os fechamentos ocorrem nos pontos que não têm acostamento e pontos de ônibus. O motorista simplesmente vai pra lateral e não se importa com quem vem ou vai. Muitas vezes ou você vai pro mato ou ele te mata! Acho que eles poderiam ser mais educados. A infraestrutura já não é muito boa pra prática de esportes e a falta de educação dos motoristas ajuda a dificultar mais ainda.

Andre Holdefer

Mas o problema não se restringe apenas aos ônibus de linha. Algumas pessoas citaram casos em que transportes de turistas e carros de passeio também desrespeitam as leis de trânsito:

Comigo não são tanto os ônibus, mas sim os carros que fecham e entram de uma vez pra fazer uma entrada à direita. Mesmo com os itens de segurança sinalizando, os motoristas tratam a gente como se fosse nada. Não percebem que tem uma vida ali. Fui atropelado meses atrás porque um motorista invadiu a preferencial, ou seja, não parou na placa de Pare. E direto tem isso. Tenso conviver com quem não te respeita.

Paulo Rodrigo da Silva

Essa semana eu estava atravessando uma rua e o carro estava atrás queria dobrar à direita. Quando eu estava na metade da rua que ele queria dobrar, ele buzinou bem forte pra me assustar, sei lá.

Christian Ricardo

No dia do Cataratas Day tivemos um problema bem sério. João e eu na Avenida das Cataratas, com um ônibus de turismo que colou em mim na guia de um jeito que eu não tinha espaço nem pra desclipar com segurança e parar a bike. Eu só pedia a Deus para não cair. Foi bem tenso. Tinha bastante espaço, não precisava ter feito isso! Fiquei tão nervosa e concentrada em não cair que nem consegui ver o nome da empresa pra poder reclamar.

Júlia Batista Alves

Claro que existem, sim, exceções, como apontam o Matheus, a Eli e a Tamiles:

Ultimamente, os caminhões e os ônibus estão bem complicados de se conviver. Todos os dias sempre rola uma fechadinha básica. Porém, não vou generalizar, pois tem muitos que são super educados, até fazem tipo “escolta” até ficarmos em segurança na pista.

Matheus Gradella

Ando diariamente pro trabalho e, acredite, em geral sou mega respeitada – isso melhorou muito nos últimos anos, mototaxistas também. (Tenho problema com carros/ônibus de turismo, táxis e vans escolares).

Eli Krauss

Já ocorreram várias vezes tanto na Tancredo como no Três Lagoas, tanto ônibus quanto carros fechar a gente, mas tem os que respeitam e os que não respeitam a gente.

Tamiles, do Armazém da Bike

O que podemos perceber conversando com os ciclistas é que o desrespeito é grande e não pontual. Ou seja, medidas como advertir um ou outro motorista acabam não resolvendo muito, até porque a maioria dos casos não é documentado.

O que funcionaria melhor, acreditamos, é um programa de educação de trânsito, em que motoristas e ciclistas pudessem ter uma aproximação, pudessem discutir o que os frustra e as razões para certas atitudes.

Uma iniciativa interessante que talvez possa ser aplicada por aqui

Mas seguiremos denunciando e cobrando das autoridades atitudes a respeito. Quem sabe um dia a exceção se torne regra, e todos possam trafegar em segurança pela cidade.

Teve problemas no trânsito ou com condutores de ônibus? Entre em contato com a ouvidoria da Prefeitura: ouvidoriageral@pmfi.pr.gov.br ou diretamente com o Consórcio Sorriso.

E você, tem algo a relatar também? Manda pra gente!

Fernando Correia

Apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, mas com uma bicicleta no pé e sem muita ideia na cabeça

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