Dicas bike

Minha primeira bicicleta

Pois bem, eis que um dia você acorda pela manhã, respira e exclama: Preciso largar o sedentarismo.

Depois de ponderar sobre se matricular na academia do bairro (de novo), pagar seis meses adiantados (de novo) e só comparecer por lá durante uma semana (na verdade, três dias desta semana), você decide que está na hora de dar dinheiro para outro comércio e resolve correr… mas se lembra como foi difícil a última vez para alcançar o ônibus.

Não seria genial se inventassem um esporte que se pode fazer sentado?

POIS SEUS POBREMAS SE ACABARAM-SE!

Bom, pelo título você já deve ter imaginado do que vou falar por aqui e, se você está lendo este texto, deve estar pensando em comprar uma bike nova, especificamente uma Mountain Bike ou BTT (Bicicleta de Todo Terreno como dizem por aí); portanto vou tentar resumir o que observei quando fui comprar a minha última magrela.

Primeiramente, dê uma olhada no seu orçamento, considere o quanto quer gastar nesta brincadeira, pois bikes de entrada possuem um gama de opções bem ampla e para todos os bolsos. Além disso, considere também os equipamentos de segurança necessários para sua nova empreitada: capacete é o item indispensável; luvas são recomendadas; joelheiras, um opcional para os dias de trilha; a partir daí, o céu é o limite.


Imagem real de um iniciante empolgado saindo da loja de acessórios

Ao pesquisar bicicletas no Google, você encontrará uma gama gigante de modelos, tipos, preços e cores; aconselho que foque nas bicicletas de entrada, elas custam de R$ 1 mil a R$ 3 mil, dependendo da marca e das configurações de peças.

Mas, não se desespere. Mais para baixo tentaremos baixar esse custo, como por exemplo, focando nas bikes usadas.

As bicicletas usadas geralmente são mais baratas que uma nova, mas comprar uma requer um olhar mais treinado, pois, como qualquer item usado, elas podem ter defeitos ocultos. Tente encontrar uma loja de confiança na sua cidade, que lhe dê garantia no caso de defeitos, e lembre-se sempre de exigir a nota fiscal. Levar um amigo que entenda um pouco para dar uma olhada seria bom também.

Uma opção em algumas cidades são as bikes de aluguel. Se você não está certo de que pedalar vai ser legal, alugue uma por uns finais de semana e saia pedalando por aí. Se curtir, invista na sua própria.

A marca

As bikes existem em diversas marcas, tanto importadas quanto nacionais. As principais nacionais recomendadas por mim e mais alguns colegas são: Caloi, Sense, Oggi, Audax, Endorphine/BTwin, TSW, Soul e Groove.

Já nas importadas de entrada, temos: GT, Specialized, Fuji, Scott, Trek e Cannondale.

Estas marcas são recomendadas por alguns motivos, tais como rede de assistência autorizada, garantia (algumas com garantia vitalícia do quadro), peso adequado, bom conjunto de peças, boa geometria (desenho do quadro que proporciona conforto e transmissão de potência da pedalada para as rodas), durabilidade, entre outras vantagens de se ter um produto “de marca”.

O quadro

O quadro/frame é a peça mais importante da bicicleta, pois serve de base para todo o conjunto de peças. Ele também dita qual a marca da bike, pois como veremos o restante das peças geralmente são de outra marca, como a Shimano ou Sram, por exemplo, além de seu formato ser o principal item de ergonomia e conforto na pedalada.

Então, você encontrou uma loja legal com um preço bacana e resolveu parcelar em 345 vezes, mas o vendedor pergunta “Quadro de que material você procura? Qual seu tamanho?”. Sim, bicicletas existem em tamanhos diferentes e estes tamanhos variam de acordo com a sua altura e algumas outras medidas do seu corpo. Mas, para simplificar, use esta calculadora, ela vai lhe ajudar a descobrir o tamanho ideal de bike para você, bem como as melhores medidas para evitar dores e lesões.

Já os materiais dos quadros de entrada podem variar entre aço e alumínio. Prefira os de alumínio, pois são mais leves e possuem uma ótima durabilidade.

Sistema de marchas (ou grupo) e freios

Você já deve ter lido por aí centenas de nomes que não dizem nada, e com certeza deve ter lido que “Shimano é bom”. Mas, o problema é que existem dezenas de modelos de peças Shimano. Então, na ordem de qualidade do “menos bom” para o melhor, temos:

Linha básica:

  • SIS
  • Tourney

Linha intermediária:

  • Altus
  • Acera
  • Alívio

Linha avançada:

  • Deore
  • SLX
  • Deore XT
  • XTR

Para uma bicicleta de entrada, prefira os componentes das linhas básica e intermediária – de preferência da intermediária, pois elas terão menor risco de lhe deixar na mão no meio do mato. Caso a grana esteja curta, prefira o Tourney ou Altus, e o SIS apenas se a grana estiver realmente curta.

Outra boa marca de peças é a SRAM, apesar de não ser muito usada em bikes de entrada, mas comumente achamos os grupos de de entrada X5 ou os intermediários X7, X9 e NX.

Suspensão dianteira

Geralmente, em bikes de entrada temos apenas 2 opções: “com” ou “sem”. Se for “sem”, fique atento se o material do garfo e do quadro são da mesma marca. Caso contrário, desconfie e pesquise sobre a marca do componente.

O material, tanto dos garfos rígidos quanto dos com suspensão, pode ser alumínio ou ferro.

Se optar por uma bike com suspensão, você provavelmente terá de escolher entre Proshock, SR Suntour ou Rock Shox, todas elas a mola. Qualquer outra marca é furada na certa, com exceção dos casos em que a suspensão é da mesma marca do quadro, como a Caloi (que na realidade é da marca Zoom), que não são boas, mas no conjunto da obra acabam compensando.

Suspensão traseira

Em bicicletas de entrada? Não, nunca, corra, saia de perto disso, sério! Vai logo.

Freios

Freios: Ferradura, Vbrake e a disco

Até alguns anos atrás, o padrão eram os freios Vbrake, que eram duas alavancas de metal com sapatas de borracha, e quando acionados entravam em atrito com aro da bicicleta. Hoje isso mudou, e o padrão passou a ser os freios a disco – sim, como os de motos.

A mudança ocorreu pois estes novos modelos tentam solucionar um problema recorrente para os ciclistas. Quando tínhamos o Vbrake, a proximidade do aro com o solo acabava diminuindo a qualidade da frenagem em dias de chuva ou em terrenos com muita lama, pois a água e a lama entravam em contato direto com a roda, prejudicando o mecanismo de frenagem. No caso dos freios a disco, a distância entre o solo e o conjunto de freio é bem maior, o que evita contaminação.

Existem dois tipos de freios a disco, os mecânicos e os hidráulicos.

Os freios mecânicos são acionados por um cabo de aço, assim como eram os Vbrake. A diferença é que agora existe um mecanismo que aciona pastilhas que entram em atrito com um disco de metal acoplado ao cubo (centro das rodas). Este modelo, apesar de ser melhor que os modelos anteriores (Vbrake ou ferraduras), é o menos preciso dos dois e requer um pouco mais de atenção na hora da frenagem.

Já os freios hidráulicos usam um sistema de mangueiras com óleo. Ao acionar os freios, este óleo aciona pistões que empurram as pastilhas, que entram em atrito com o disco. A diferença é que neste modelo toda a força gerada ao apertar os manetes de freio são transmitidas sem perdas para as pastilhas, enquanto no modelo mecânico podem existir pequenos problemas no caminho que o cabo percorre, ocasionando um menor controle na força aplicada.

Embora haja diferenças nos dois modelos, ambos são mais confiáveis que os modelos anteriores, os Vbrakes, mas, entre eles, prefira sempre o hidráulico.

E agora, José?

Então você foi lá, pesquisou online, passou por todas as bicicletarias da região, ouviu falar de muitas outras marcas (GTS, GTX, Totem, Colli, PNY, Micalatéia…) e decidiu que “vai pegar qualquer uma mesmo pra começar”. E, quanto a isso, eu digo: vai lá, cara!

O importante de qualquer esporte é começar, não importa se com uma Barraforte vintage, ou com uma Cannondale Lefty XCY PQP UltraXYZ da Nasa. Depois que você pegar gosto pela coisa, vai querer continuar, crescer, investir e ficar monstrão, e neste processo vai conhecer mais gente que goste de sair sem rumo e que te ensinará muita coisa. Você pode até mudar de ideia e ver que uma bike de speed/road é mais legal (você estará errado, mas ok).

Mas tenho uma dica final, caso queira fazer isso: tente pelo menos achar um bom quadro, pois assim você poderá trocar as outras peças sempre que tiver uma graninha a mais e continuar pedalando por um bom tempo.

É claro que este post não pretende ser um guia definitivo sobre como escolher uma bicicleta, mas ele com certeza já te deu uma boa base, certo? Nas próximas postagens, abordaremos novamente o assunto, com mais detalhes, falaremos sobre acessórios e equipamentos e diversas outras coisas relacionadas a este mundo da bike. Tem alguma dúvida, ou quer sugerir uma pauta? Manda pra nós: contato@bicicletismo.com.br.

Fernando Correia

Apenas um rapaz latino americano sem dinheiro no bolso, mas com uma bicicleta no pé e sem muita ideia na cabeça

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